Por que profissionais da saúde são vistos como pessoas que cuidam?

É fácil imaginar a resposta para a pergunta título deste artigo, mas será que essa percepção popular dos profissionais da saúde como pessoas que cuidam de outras pessoas é assim apenas devido ao tipo de trabalho que eles desempenham? Essa relação acontece também graças às características arquetípicas e ao protótipo – desses profissionais – que o cérebro humano cria. Se você não conseguiu acompanhar a filosofia deste parágrafo, eu vou explicar melhor.

Arquétipos são imagens, como protótipos, criadas pelo inconsciente que remontam a situações vivenciadas no passado. O psicólogo suíço Carl Jung difundiu esse conceito em sua teoria sobre a psique humana e hoje, os arquétipos são muito utilizados no branding e na publicidade.

Personagens – marcas pessoais – são melhores posicionados quando há alguma característica arquetípica que conecte a marca em questão à dor do consumidor, que será resolvida por ela.

O ator Tom Hanks tem sua imagem de marca associada às características do arquétipo inocente. Isso acontece em razão dos personagens interpretados por ele terem sua construção na figura arquetípica do inocente, nunca clara tentativa de trazer conexão com o público e o desejo – deste público – por ajudar aquele personagem. Você se lembra do Forrest Gump? Pois é.

Outra personalidade com características arquetípicas do inocente é a Princesa Diana, sempre lembrada como uma cinderela. Ela teve, e ainda tem, sua imagem associada à bela moça que se casou com o Príncipe Encantado, mas que viveu infeliz em uma torre sob o olhar vigilante da sogra megera. A sociedade tende a apoiar personagens assim por perceber neles certa fragilidade necessária à proteção – já que proteger o semelhante é um impulso humano originado provavelmente na época das cavernas.

As características arquetípicas não são constituídas apenas por “bonzinhos”, há também personalidades fora-da-lei e rebeldes, como a popstar Madonna. Mesmo após diversas mudanças em sua imagem pessoal, Madonna ainda tem atitudes associadas ao arquétipo do rebelde.

Mas e quando falamos de profissões? Existe arquétipo para elas? Claro que sim! De modo geral, um grupo de pessoas que opta pela mesma profissão tem características e anseios parecidos e, por consequência, oferecem um serviço a outro grupo de pessoas cuja necessidade ou dor será sanada por tais pessoas. 

Dráuzio Varela é um respeitado médico brasileiro. De fala doce e cortês, tem sua imagem constantemente associada aos direitos humanos e às causas sociais. Recentemente, ele esteve sua imagem associada a uma polêmica ao participar de um quadro do programa Fantástico em que entrevistou a população carcerária transexual. Não preciso relembrar o recente episódio da TV brasileira, pois uma frase dita por Dráuzio – “Solidão, né minha filha?” – rapidamente virou meme.

Dr. Dráuzio é médico e o que se espera de um médico é cuidado. Isso é o pensamento comum da população de qualquer país. Ocorre que, embora a OMS (Organização Mundial da Saúde) defina saúde como “bem estar físico, social e mental”, é sua falta que é percebida pela população. E se há falta de saúde, quem pode ajudar a recuperá-la é o médico. 

A área da saúde evolui e o que antes era exclusivo dos médicos passou a ser dividido com enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogos, psicólogos, dentistas, dentre outros. O que não mudou foi a associação desses profissionais ao arquétipo do cuidador. 

Sabe o que acontece quando um profissional da saúde tenta se associar ao arquétipo do rebelde, por exemplo? Má reputação. Isso porque o cuidador e o rebelde ocupam espaços e momentos diferentes na mente do público e, consequentemente, estão associados a causas diferentes. Você entraria em um consultório de algum profissional da saúde que vestisse colete de couro e coturno? Muito provavelmente acharia estranho, pois estes símbolos estão facilmente associados à imagem do rebelde ou mesmo a do fora-da-lei. 

O arquétipo do cuidador tem um espírito humanitário e para ele o bem estar da população importa. Cuidar e fazer algo pelos outros é seu desejo básico e se o fazer pelos outros é um desejo, o egoísmo e a ingratidão são seus maiores medos.

Essa associação com o cuidador pode ser a responsável por certos indivíduos percebem no marketing para saúde algo malicioso e quase imoral. É como se por estarem associados a quem cuida, ganhar dinheiro – associação arquetípica do marketing – fosse escuso. Há também o ponto que, estando associados ao cuidador, as estratégias de marketing precisam ser mais zelosas e focadas no bem estar do indivíduo.

Na hora de se comunicar com o público – não somente em redes sociais, mas principalmente durante uma consulta – seja você médico ou qualquer outro profissional da saúde, esteja atento aos conceitos e dons básicos do arquétipo do cuidador. Lembre-se que o indivíduo que recorreu a você, assim o fez por necessitar de cuidados e que ele precisa enxergar em você humanidade, empatia e conhecimento para que confie sua vida a você.

Neste momento de pandemia em que as profissões da saúde estão em evidência, a associação desses profissionais ao arquétipo do herói é muito comum. É como se os profissionais da saúde fossem o exército dos aliados – os herois – e o Coronavírus o exército Nazista – os fora-da-lei. No entanto, não se engane acreditando que essa associação, que é muito difundida pela mídia, transforma o imaginário coletivo a ponto de mudar a associação entre um arquétipo e uma profissão. Profissionais da saúde estão sob o arquétipo do cuidador e cuidado é tudo que a população precisa neste momento.

Se você é um profissional da saúde, todo o meu respeito e gratidão por se expor, não apenas neste momento, mas em todos os outros, a insalubridades tamanhas para promover saúde e bem estar a todos nós. Meu respeito e gratidão.

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